sábado, 19 de maio de 2012
Auto retrato
Não imaginava que gostava tanto de ter tempo sobrando.
Nem imaginava que gostava de ficar comigo.
Acho gostoso quando chego em casa.
E não tem nada esperando.
E encontro as coisas onde as deixei.
Mesmo as bagunças,
A porta do armário não se fecha há meses.
A pasta sem tampa petrificou.
Também não sabia que gostava tanto de escrever.
Ficar horas a frente do computador.
Nem que meus dedos acertam as letras sozinhos.
Não sabia que para escrever há uma posição apropriada.
Espichado.
A tela inclinada para não jogar muita luz.
O olhar vago e queixo enfiado no pescoço.
Respiração lenta.
Um vazio na frente.
E de repente vem a palavra.
Como chuva as vezes pinguinhos outras enxurrada.
Assim com a coluna apoiada.
Reparo todos os ruídos.
Implico com os estridentes e desnecessários.
Faço um certo biquinho.
Me assusto quando bate o sino.
Conto o horário de traz para frente.
Será que escrever tem importância ?
Parece auto retrato.
Só grandes pintores se permitem ?
Pequenos pintores também arriscam.
Escritores também.
Escrevo meu auto retrato.
Meu auto texto.
Na iminência de levantar e de arrumar tudo.
Algo que transpareça .
E me ligue a quem leia.
Como um espelho.
Então escrever é como pintar um auto retrato.
Só que do leitor.
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