sexta-feira, 8 de abril de 2011

Auto retrato

Nem imaginava que gostava tanto de ter tempo.

Nem imaginava que gostava de ficar comigo.

Acho gostoso quando chego em casa e nada há esperando.

Encontro as mesmas coisas onde as deixei incluindo bagunças.

É o milagre da imutabilidade como o dia e a noite.

Também não sabia que gostava tanto de escrever.

Ficar horas na frente do computador.

Nem que meus dedos sabem acertam as letras sozinhos.

Gosto de escrever deitado pouco vestido com um rolinho sob a nuca.

A tela inclinada para não jogar muita luz.

O olhar vago, meio embaçado, pálpebras pesadas.

Queixo suavemente enfiado no pescoço.

Joelhos dobrados apoiando o lap top quente no ventre.

Respiração lenta, nasal, um vazio na frente.

Quando de repente vem a palavra como a chuva.

As vezes pinguinhos, as vezes enchorrada.

Há algumas que vem em brumas também.

Todas gostam de ser como agua, inconsciente.

Brigo com ruídos estridentes, desnecessários ou repetitivos.

Faço um certo bico.

Me assusto quando bate o sino.

Conto o horário de traz para frente.

Falta tanto para acontecer aquilo.

Será que escrever tem importância ?

Parece pintar auto retrato.

Escrevo auto retrato a cada texto.

Algo que quem lê se sinta escrevendo.

Como por um espelho.

Então entendo que escrever.

É como pintar auto retrato

Só que do leitor.

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